No capítulo I de seu livro A Ética, o filósofo holandês Espinosa diz que, mais difícil do que provar a existência de Deus, é provar que Ele não existe. Ou seja, quais são os argumentos que o ateu tem para dizer que Deus não existe? Praticamente só tem o argumento de que tudo que existe é obra do acaso. Mas aí começam grandes problemas para o ateu: em primeiro lugar, há uma constatação: o universo, segundo os astrofísicos, não tem fim (o telescópio espacial Hubble, por ex., já vasculhou um quinquilhão de quilômetros no espaço e não achou um “fim”). E, para piorar pro lado do ateu, segundo os cosmólogos, o universo também não tem um começo. Antes do Big-Bang, ou seja, antes de surgirem as primeiras partículas subatômicas, mésons, quarcks, fótons, glúons, férmions, etc, havia flutuações quânticas, ou seja, flutuações de energia – isto é, havia já “alguma coisa”. Sem começo e sem fim, a ciência constatou que o universo é infinito e aparentemente eterno. Ora, infinito e eterno são exatamente os atributos de Deus, segundo Espinosa, Descartes e mesmo os filósofos escolásticos (Scoto, Occam, Tomás Aquino, etc). Mas há mais dados. Aqui entra Darwin, com seu princípio da evolução. O universo conhecido, desde seus primórdios, é caracterizado por um princípio : o do desenvolvimento, o do aumento da complexidade. Isso, por si só, já é um “milagre” pois, segundo as leis físicas da termodinâmica (ver, p.ex., A Nova Aliança, de I. Prigogine) o universo deveria caminhar para a desagregação, para a dissolução, a desorganização. Mas o que ocorre, de acordo com Wallace, Darwin, é o contrário: das partículas subatômicas até a consciência do homem, a vida tem se organizado e evoluído. Ora, se durante bilhões de anos já conhecidos, a consciência só tem evoluído, é de se esperar que continue a fazê-lo indefinitivamente, pois caminhamos rumo ao infinito, como vimos acima. Ora, se um ser evolui rumo ao infinito, ele ruma para a perfeição evolutiva, e o ser perfeito, mais uma vez, é “Deus”. Portanto, é bem provável que tenhamos “deuses” mais à frente que nós, seres mais evoluídos, que planejam e organizam a vida, a cosmologia, e a consciência, como a conhecemos. Por isso tudo, a hipótese da existência de Deus é bem mais plausível e provável do que aquela de sua não-existência, como queríamos demonstrar. Temos de acabar com aquela pregação sempre existente nas igrejas, sejam católicas, sejam protestantes, de que “a existência de Deus” é um artigo de fé, de crença, e não de raciocínio, de filosofia, de ciência, de razão enfim. Esse tipo de declaração só faz piorar as coisas.
Marcelo Caixeta.